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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 5: Famílias e Gerações

Debatedores: Raphael Bispo (UFJF) e Fabíola Cordeiro M. dos Santos (PPGSA)


Trajetórias de indígenas no trabalho infantil doméstico em Manaus: uma leitura ao avesso
Marlise Rosa - PPGAS/MN


Resumo: A partir da trajetória de quatro mulheres indígenas, hoje em idade adulta, este artigo se propõe a refletir sobre a dinâmica do trabalho infantil doméstico (TID) na cidade de Manaus – AM. Na contramão das análises que compreendem e definem essas relações apenas em termos de algoz e vítima, ou explorador e explorada, proponho uma reflexão que considere a capacidade de agência de meninas sob essa condição. Esclareço que, em sintonia com Saba Mahamood, a agência aqui é pensada não somente como sinônimo de resistência em relações de dominação, mas também como a capacidade de as pessoas agirem motivadas por interesses individuais. Assim, para essas meninas, de modo geral, inseridas em contextos de extrema pobreza, forçadas desde a mais tenra idade a enfrentar a fome e outras adversidades cotidianas, a possibilidade de morar com outra família apresenta-se como uma oportunidade para intervirem em sua própria realidade. Em casos mais extremos, trata-se da alternativa mais conveniente para garantir sua sobrevivência, bem como a sobrevivência de seus familiares por meio das contribuições feitas pela família receptora em troca de seu trabalho. Sob essa perspectiva, acredito que, por mais utilitarista que possa se configurar o preceito de “dar uma ajuda”, ele não é de um todo inapropriado para refletir sobre essa modalidade de relação social. Além disso, por mais absurdo que de imediato soe – principalmente por se tratar de crianças e adolescentes – parto do pressuposto de que precisamos superar a retórica de “salvar” o outro, reconhecendo as implicações da superioridade e violência desse discurso, e atribuindo a esses sujeitos o direito e a capacidade de agirem a partir de um contexto social, histórico e culturalmente situado.

Palavras-chave: mulheres indígenas; trabalho infantil doméstico; agência.


O conflito quanto ao conceito de família na Câmara dos Deputados
Bianca Alves Silveira - PPGAS/UNB


Resumo: Este trabalho é um desdobramento da pesquisa de dissertação de mestrado em desenvolvimento no PPGAS/DAN/UnB que tem por objetivo realizar uma análise comparativa entre a discussão do estatuto da família na Câmara dos Deputados Federal e a fundamentação argumentativa do processo da ADI 4.277, e ADPF no 132 – Ação Direta de Inconstitucionalidade e Argüição de descumprimento de preceito fundamental sobre a união homoafetiva e seu reconhecimento como instituto jurídico e proibição de discriminação das pessoas em razão do sexo, seja no plano da dicotomia homem/mulher (gênero), seja no plano da orientação sexual de cada qual deles, julgadas pelo Supremo Tribunal Federal. A análise pretende identificar aproximações e distanciamentos entre as demandas populares, por meio da representação na Câmara, e a fundamentação jurídica vigente. É importante mencionar que a definição de família proposta no estatuto da família mobiliza diversos arranjos familiares. A análise deste trabalho, então, centra seus esforços nas moralidades envolvidas e na simetria dos valores modernos de igualdade e suas diversas manifestações presentes nas discussões da Comissão Especial da Câmara que está analisando o Projeto de Lei 6853/2013 sobre o Estatuto da Família. 

Palavras-chave: família; direitos fundamentais; igualdade.


Familiares de dependentes químicos: os grupos de mútua ajuda
Sandra Regina Martins Caldas - PPGCS/PUC-SP


Resumo: Este projeto tem por objetivo investigar os grupos anônimos de mutua ajuda para familiares de dependentes químicos – Nar-Anon, a partir de análises dos ritos e códigos culturais de um grupo situado na região oeste de São Paulo. Que valores são incorporados por seus membros? Esta pesquisa optou por um estudo etnográfico sobre a estruturação e vivência dentro do grupo, com ênfase no sentido, atribuído por este ao conceito de “desligamento” em suas relações com os dependentes químicos, bem como o estabelecimento do entendimento de recuperação e espiritualidade para a construção de uma nova maneira de viver dentro da convivência com a síndrome da dependência química. Os resultados apontam para a troca, no sentido de Maus, alicerçam-se na troca de experiências vividas por seus freqüentadores.

Palavras-chave: etnografia; mutua-ajuda; adicção.


Circulando como filho: emoções, moralidade e diferenças
Everton Rangel - PPGAS/MN


Resumo: Em meados de 2013, iniciei uma pesquisa sobre a vida cotidiana de dançarinas(os) brasileiras(os) em um dos maiores circos dos Estados Unidos. Naquele momento, importava compreender a produção simbólica e comercial de corpos nacionalizados neste segmento específico do mercado do entretenimento norte-americano. Interessa agora demarcar que esse empreendimento tanto cria as condições para junção de profissionais de nacionalidades diversas em um mesmo local de trabalho e moradia quanto atua sobre relações afetivas ao distanciar aqueles que as vivem: refiro-me, por um lado, aos casais conformados no circo e, por outro, aos familiares afastados durante o processo de migração. Neste trabalho, proponho retomar a análise tanto do laço maternal que tornou possível a minha dissertação quanto dos vínculos que estabeleci em campo com as figuras que me queriam bem por quererem bem à minha mãe biológica – antiga dançarina do circo. Refiro-me a um ego e a um laço firmados no meu corpo através do olhar alheio. Lá, o ex-namorado ucraniano da minha mãe foi considerado como meu pai e a chefe das(os) brasileiras(os) se autodenominou como minha mãe na ausência da mesma. Isto aconteceu exclusivamente porque a minha presença neste lugar mobilizava memórias, relações, sentimentos e contraprestações anteriores à existência da própria pesquisa. A família que descrevo é mais fruto da aliança do que da biologia. Argumento que a administração dos corpos revela-se uma administração das relações afetivas e/ou sexuais que escapam ao domínio da intimidade porque fundadas em uma empresa detentora de capitais que lhe conferem indiretamente autoridade para distribuir o direito de permanecer ou não nos Estados Unidos. Em outras palavras, busco entender o modo como sentimentos específicos (dor, pena, compaixão) marcavam a relação da minha mãe biológica com o seu então namorado ucraniano numa confluência com demarcações de gênero, de nacionalidade e de origem social após ambos terem sido distanciados por razões contratuais.

Palavras-chave


Fruits of passion and heirs of chance: challenging illegitimacy in postmodern Angela Carter’s Wise Children and romantic Mary Shelley’s Frankenstein
Fernanda Vieira de Sant’ Anna - PPGL/UERJ


Resumo: Illegitimacy is a recurrent subject in literary texts and it can be seen as “a reaction to contemporary situations, bringing attention to problems that are conditioned though not resolved by contemporary norms” (ISER, 1994, p.3). Even when the bastard character is not the main one, its presence is substantial. Considering this, two major literary works stand out and will be used as main sources in this communication: Wise Children, by Angela Carter, and Frankenstein, by Mary Shelley. Notwithstanding, the distinction between state of nature and of society is one of the principles proposed by the precursors of sociology that was more firmly rejected, as said by Claude Lévi-Strauss in his As Estruturas Elementares do Parentesco (1982, p.41). Then, the sole idea of a dichotomy between a natural being and a social one cannot survive human nature. Also, the concept of “family” must be considered as a social product, not a natural or universal data, but a concept which is plural and varied (SCHUCH, 2005). Thus, to problematize the issue of illegitimacy is to broaden its concept, leading to a rethinking of Western family institutions that have changed to plenty different models, turning illegitimacy an outdated concept or, at least, a concept that need revaluation.

Palavras-chave: Illegitimacy; Bastardy; Family.