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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 4: Linguagem, Comunicação e Atos de Fala

Debatedores: Evandro Bonfim (PPGAS/MN) e Adriana Lopes (UFRRJ)


A língua como localização, à luz da mobilidade das mulheres no Vaupés
María Rossi Idárraga - PPGAS/MN


Resumo: Pretendo refletir sobre os valores atribuídos a entender e falar várias línguas, e sobre os significados e as implicações das traduções em contextos de multilinguísmo, a partir da minha pesquisa no Vaupés colombiano, sobre trajetórias de mulheres indígenas membros de onze grupos diferentes, cada um com sua língua. Todas falam espanhol, algumas melhor que outras, e em geral falam entre duas e dez línguas, além do espanhol. No contexto, vale a pena levar em conta vários fatores: a alta diversidade de línguas (29), e o multilinguísmo, na região e nas famílias, mais acentuado nas mulheres. Nesse multilinguísmo, a língua é um dos marcadores de pertença, e as normas de parentesco prescrevem o casamento fora do grupo, e quase sempre fora da língua. São as mulheres as que saem de suas famílias e de suas línguas para morar em outras, e carregam certa condição de estrangeiras (ou vem de fora, ao casar, ou vai para fora, quando solteira). Mas, pelas mudanças na região, a língua própria pode não ser falada pelo individuo, e as normas de parentesco são cada vez mais difíceis de seguir. Dito isso, como traduzir o espanhol local? que poderia ser considerado a língua franca atual, e que carrega muitos elementos das relações, das línguas locais e das que tem sido línguas francas (tucano, geral, português).

Palavras-chave: exogamia linguística – mobilidade das mulheres, multilinguísmo, tradução.


O Fortalecimento do Ithok Krenak
Breno Anselmo Gomes - PPGAS/MN


Resumo: “Ithok Krenak” é como a “língua botocudo” vem sendo atualmente chamada pelos membros desse grupo indígena do Rio Doce (MG). E eles são enfáticos ao afirmar que sua língua nunca morreu, rejeitando, por conseguinte, as noções de revitalização e recuperação para descrever o processo que tentam levar adiante nas aldeias.“Fortalecer” é a expressão que tem dado conta das atuais intervenções, cujo foco primário é transmitir aos mais jovens uma habilidade que apenas alguns dos mais velhos dominam. O ithok krenak é alçado, portanto, à posição de um conhecimento marcado. A língua tradicional é, desde pelo menos três gerações, uma língua aprendida e não adquirida. Mas ela continuou sendo ensinada, esse é ponto. São poucos os Krenak que dizem não saber nada da língua. Se tal conhecimento pode não atender a alguns parâmetros da linguística, ele atende muito bem aos propósitos dos Krenak, que tem, obviamente, uma relação muito especial com sua própria língua. Uma via de aproximação a esta relação particular nos é oferecida quando esmiuçamos a forma dessa transmissão e as transformações incitadas nas pessoas que participam desses processos. Sigo pensando que tais transformações associam-se à “produção de parentesco”.

Palavras chave: Krenak; línguas indígenas; conhecimento tradicional


Discursos da Dilma no Dia Internacional da Mulher
Alessandra Ghiorzi - PPGAS/UFSC


Resumo: Mulheres e homens, ao longo da história e em diferentes sociedades, tiveram suas atividades segmentadas. Atualmente, as mulheres brasileiras são as principais responsáveis pelo trabalho doméstico, enquanto a presença feminina na política representativa é ínfima. Entretanto, esta divisão de tarefas foi questionada por mobilizações feministas, suscitando avanços nos campos político e científico. Em 2010 foi eleita a primeira mulher a assumir presidência da república do Brasil, Dilma Rousseff, que em 2015 iniciou seu segundo mandato. Com o intuito de compreender este novo cenário político, a presente comunicação tem como escopo analisar os quatro pronunciamentos da presidenta Dilma Rousseff em comemoração ao Dia Internacional da Mulher realizados entre os anos de 2012 e 2015. Com isso, objetiva-se compreender de que modo estes pronunciamentos se alinham (ou não) às reivindicações dos movimentos feministas, que têm como marco de luta internacional o dia 8 de março. Conclui-se que ao longo dos anos houve uma mudança no discurso que pode ser explicada pela atual oposição enfrentada pela presidenta, de modo que Dilma tem seu governo questionado por meio de protestos pró-impeachment.

Palavras-chave: Análise de discurso. Gênero. Política.


Cuestión de términos: Reflexiones acerca de los movimientos cannábicos en Córdoba, Argentina
María Cecilia Díaz - PPGAS/MN


Resumo: El presente trabajo pretende dar cuenta de algunas inquietudes derivadas de un trabajo de campo recientemente iniciado en torno de los movimientos de despenalización y legalización de la marihuana en Argentina, con foco en Córdoba. A partir de los estudios de performance (Schechner, 2000; Carlson, 2010), de cierta literatura que procura analizar los actos de habla (Bourdieu, 2008; Bauman, 2002), como también de investigaciones que problematizan los términos empleados por movimientos sociales (Comerford, 1999), abordaré las discusiones producidas en conferencias y en las reuniones de una de las agrupaciones, en tanto instancias en las cuales la reflexión acerca de aquello que debe ser dicho en la escena pública adquiere relevancia. Así, hasta el momento se ha observado que quienes abogan por la legalización articulan demandas en términos de “regulación” y “salud pública”, mientras que los que están a favor de la despenalización privilegian la referencia a los “derechos” amparados por la constitución. Mediante un primer ejercicio reflexivo sobre mi participación en eventos y reuniones junto con activistas, pretendo ensayar una interpretación sobre la conformación y presentación de estas agrupaciones, y los efectos que las expresiones elegidas tienen sobre las mismas.

Palavras-chave: marihuana, activismo, términos


Huatla de Jiménez e as vozes de María Sabina: Uma etnopoética pela cura em um espaço afeito ao som
Anita Lino - PPGAS/MN


Resumo: Esta proposta de comunicação tem como cenário o município de Huautla de Jiménez, localizado no estado mexicano de Oaxaca, e é propiciada por um semestre de intercâmbio acadêmico na Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). Seu objetivo é o de relacionar questões que tangenciam semblantes da “étno-celebridade” María Sabina, eminente pelos cantos curativos que surgiam durante os efeitos da ingestão de cogumelos psilocíbios (correspondente à tradição de cura entre a população mazateca à qual pertenceu), às transformações do espaço em que viveu, assim como às ressignificações que alocronicamente fazem correspondência ao fenômeno da cura e também à alteridade de forasteiros, que até a atualidade visitam o município, motivados a ‘vis-lumbrar’ estados somáticos outros (por meio do uso de tais enteógenos). Pretende-se trazer à tona estas questões a partir de reflexões que dialogam aportes antropológicos com a Linguística e a Psicanálise, refletindo a (des)construção de uma etnografia que se faz (alegoricamente) poética. Para uma primeira conversa, que ainda conta com dados etnográficos incipientes, interessa um debate que me permita elaborar perguntas a serem levadas a campo no final deste ano.

Palavras-chave: María Sabina, Cura, Etno-poesia