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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 3: Territórios, Deslocamentos e Migrações

Debatedores: André D. Guedes (PPGAS/MN) e Camila Sampaio (UERJ)


Até a cobra fugiu: deslocamentos e resistências indígenas frente à transposição do rio São Francisco
Carla Souza de Camargo - PPGCS/Unicamp


Resumo: Este trabalho se insere nos estudos contemporâneos sobre as transformações nas populações rurais frente a projetos de grande infraestrutura. Seu objetivo geral é investigar o campo de relações entre comunidades indígenas do Sertão de Itaparica (PE) e a obra de infraestrutura hídrica popularmente conhecida por Transposição do São Francisco. Mais especificamente, parte-se da etnografia dos processos de negociação, articulação e resistências de diferentes agentes envolvidos no processo de construção do Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco, com atenção a três dimensões: 1) as relações no plano local, dificuldades e riscos ao modo de vida tradicional das comunidades indígenas e as modificações ambientais no território desde o começo das obras; 2) as relações entre os povos indígenas diretamente afetados pela obra, principalmente a partir da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME) e 3) a interface de negociação e de circulação das comunidades indígenas nos espaços institucionais e suas relações com agentes vinculados a empresas e ao poder público mobilizados pela obra da Transposição.

Palavras-chave: Índios do nordeste – sertão de Itaparica – Transposição do São Francisco


Circulação e corte na ilha de hispaniola
Felipe Evangelista Andrade Silva - PPGAS/MN


ResumoNo presente trabalho, apresento dados de pesquisa de campo iniciada em Fonds-Parisien e em Belladere (Haiti), e nas províncias de Elias Piña e San Juan de la Maguana (República Dominicana), todas elas situadas na zona de fronteira entre os dois países. A pesquisa se desenvolve num momento de tensão crescente, desde a sentença 168 da suprema corte dominicana, que declarou todas as "pessoas em trânsito" (categoria que inclui, e em sua grande maioria é composta por, migrantes não-documentados), bem como seus descendentes, inaptos à cidadania dominicana. A decisão é retroativa até 1929, o que gerou receio de que se criasse uma massa de apátridas da ordem de dezenas de milhares, causando reação fortemente negativa da "comunidade internacional". No trabalho, comparo como a situação de ameaça de deportação em massa se me apresentou desde o lado dominicano, onde as justificativas e esforços para expurgar a presença haitiana eram assunto frequente nas conversas diárias e também na mídia, e do lado haitiano, onde apesar da chegada de deportados, o assunto, se não recebia uma atenção menor, certamente era mais diluído, insinuado de forma quase velada, ainda que deixando perceptível um potencial de revolta latente.

Palavras-chaveHaiti, República Dominicana, deportações.


Entre a necessidade e a vontade: narrativas de deslocamentos de trabalhadores rurais do Norte de Minas Gerais
Lívia Tavares Mendes Froes - PPGA/UFF


Resumo: Anualmente, agricultores e trabalhadores rurais do Norte de Minas Gerais retiram-se temporariamente de seus locais de origem. De modo geral, grupos de pessoas da localidade rural de Água Boa II e adjacências do município de Rio Pardo de Minas têm se dirigido às fazendas de café no sul do estado bem como às empresas de eucalipto distribuídas em partes diversas de Minas Gerais, em busca por trabalho assalariado. A partir de estudo de caso empreendido juntamente com esses trabalhadores rurais nos anos de 2010 e 2011, pretendo, no texto, compartilhar algumas observações elaboradas a partir de narrativas dos mesmos. Pretendo destacar como e quando são efetivados tais deslocamentos e também registrar a variabilidade de impressões e avaliações produzidas pelos mesmos, em torno dos movimentos de partidas, chegadas e permanências. Se, tradicionalmente, em parte dos estudos dedicados ao assunto tem-se privilegiado discussões de ordem econômica, proponho-me a incorporar dimensões variadas desse processo, a fim de contribuir para a expansão de minha compreensão em torno desse recorrente fenômeno empreendido pela população rural brasileira.

Palavras-chave: Trabalhadores rurais, Norte de Minas Gerais, Deslocamentos


Árido Moving: o sertão nordestino através das errâncias representadas no cinema
Pedro Paulo Pinto Maia Filho - PPGEO/UFF


Resumo: O semiárido nordestino se constituí enquanto um locus central para o cinema brasileiro, suas paisagens foram representadas na grande tela desde o primórdio da sétima arte no país. Temáticas como migração e mobilidade se consolidaram na produção fílmica do Cinema Novo, porém antes, alguns filmes já abordavam o tema como em O canto do mar (1953, Alberto Cavalcanti). Tais imagens foram muito influenciada por representações precedentes como a pintura, cordel, música, literatura e artesanato. No cinema contemporâneo são incorporados códigos e convenções que se aproximam do gênero road movie, complexificando a narrativa em torno das mobilidades em uma região em transformação. O road movie desponta como gênero no cinema estadunidense que volta seu olhar para o Oeste e adquirem feições próprias em outros espaços de conquista colonial. O sertão nordestino, por meio de sua particularidade paisagística, afina-se com algumas características desse gênero tais como: vastidão, aridez, inospitalidade, lugar de iniciação, retiro, passagem. Portanto, por meio da análise fílmica, busca se entender como a mobilidade na contemporaneidade, elabora uma nova ideia de sertão construído sob um olhar errático.

Palavras-chave: Geografia e cinema, Paisagem, Sertão Semiárido.


A terra dos índios - espaço guarani e xamanismo: a cosmologia como elo de unificação das práticas tradicionais
Ana Cristina Bochnia Cabral - PPGCS/UNIOESTE


Resumo: Os Guarani são conhecidos na literatura como um grupo que esteve se deslocando constantemente por essas matas. A maioria desses indígenas vive em territórios que ainda não foram demarcados pelo governo, assim, a luta pelo direito à terra é recorrente. Quando do processo de colonização, os conquistadores avistaram que as terras no oeste do Paraná já eram habitadas principalmente por índios da etnia Guarani Mbya e Ñandeva, estes por sua vez, percebiam como sendo seu, o espaço territorial que vai de Foz de Iguaçu até Guaíra, por meio do Rio Paraná. Hoje, esses grupos analisam e internalizam sua nova configuração territorial, transpondo-se através de suas próprias categorias. Assim sendo, a base para essa pesquisa foi a experiência etnográfica junto a aldeia Tekohá Y’ Hovy localizada no município de Guaíra/Pr, que articula uma análise da terra e os conflitos gerados em torno dela, juntamente com o “viver bem” Guarani que caracteriza sua identidade. Entender como é viver numa aldeia sem demarcação que condiciona o fator da imobilidade, mas que, sobretudo, a mobilidade é reavivada através da cosmologia que é intermediada pela figura expressa do xamã, é o meu dever aqui.

Palavras-chave