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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 9: Rituais, Festas e Ludicidade

Debatedores: Tiago Coutinho Cavalcante (PPGSA) e Lucas Kastrup Rehen (PPGAS/MN)


Uso da ayahuasca e noção de pessoa na Arca da Montanha Azul
Rodrigo Rougemont da Motta - PPGSA/UFRJ


Resumo: A proposta deste trabalho é discutir e refletir sobre a expansão de rituais contemporâneos que vem fazendo uso da bebida indígena ayahuasca em contexto urbano, mais especificamente dentro do que Beatriz Labate veio a chamar de grupos de “neo-ayahuasqueiros urbanos”, muito influenciados pelos movimentos Nova-Era. Esta reflexão é fruto de uma pesquisa de campo que venho realizando em uma casa localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, no bairro de Laranjeiras, chamada Círculo Holístico: Arca da Montanha Azul. O ritual é coordenado por um psicólogo junguiano que em sua metodologia do uso da bebida explora em muito algumas concepções oriundas da psicologia analítica de Jung, bem como a influência da psicologia transpessoal. A proposta é pensar as noções de pessoa e de cura que perpassam um ritual religioso contemporâneo marcado pela ênfase em terapias holísticas como o desenho, a música e o uso do corpo de maneira aparentemente mais lúdica, refletindo sobre novas formas de vivenciar o divino que perpassam por um anseio de expansão da consciência através de uma tentativa de ultrapassar os limites e a cisão cartesiana mente/corpo, sujeito/objeto e outros clássicos na história do ocidente.

Palavras-chave: ayahuasca, nova-era, pessoa


Para além das festas: a Casa de Macau do Rio de Janeiro
Paloma Maria Rodrigues Augusto - PPGA/UFF


Resumo: Em linhas gerais, trataremos nesta apresentação da relação da comunidade macaense no Rio de Janeiro, isto é, sino-portugueses originários de Macau (China) e seus descendentes, com um local criado por esta própria comunidade para estabelecimento de sociabilidade e laços entre seus membros, a Casa de Macau do Rio de Janeiro - CMRJ. Os movimentos diaspóricos, possivelmente motivados pelos efeitos da Revolução Chinesa (1949) ou da Revolução Portuguesa (1974) – ou ainda mesmo das próprias causas dessas revoluções – trouxeram ao Brasil os primeiros macaenses, que iniciaram as atividades da CMRJ, sendo esta casa hoje o principal lugar de sociabilidade daqueles macaenses que residem no Rio de Janeiro. Através de observação participante realizada em 2014 no âmbito de pesquisa em curso junto a esta comunidade, acompanhando as festas ali realizadas, pude perceber, portanto, aspectos centrais sobre tal comunidade, para além dessas festas. Por exemplo, a centralidade que a família e a culinária possuem em relação ao que os macaenses frequentadores dessas festas chamam de identidade ou cultura macaense, servindo para o estabelecimento de uma memória coletiva sobre Macau para os membros dessa comunidade, aspectos sobre os quais tratarei nesta apresentação.

Palavras-chave: Macau; festas; observação participante


Os Pano e a cultura: festas, rituais e tradução
Aline Ferreira Oliveira - PPGAS/USP


Resumo: Este trabalho tem por objetivo fazer uma reflexão sobre o atual panorama de grupos pano em interação com os nawa (“brancos”) através dos rituais protagonizados por esses indígenas nas cidades e dos festivais realizados anualmente em suas aldeias no estado do Acre. Esta rede é tecida pelo deslocamento dos pajés e pelos usos diversos da ayahuasca (bebida psicoativa de origem amazônica, conhecida como cipó, uni, nixi pae, daime, vegetal), destacando-se neste trânsito, os Huni Kuin do Rio Jordão e os Yawanawá do Rio Gregório. Enfocarei sob o caso dos Yawanawá, fazendo um reflexão acerca da centralidade das festas e dos rituais xamânicos no processo de re-invenção da cultura. Ainda, levantarei algumas questões acerca da tradução de mundos e cosmologias, a partir da polissemia de categorias e da circulação de práticas.

Palavras-chave: Pano, rituais, festas.


A festa de Cosme e Damião: uma etnografia de doces e crianças pelas ruas do Rio de Janeiro
Morena de Freitas - PPGAS/MN


Resumo: Nas comemorações de São Cosme e São Damião, milhares de pessoas saem às ruas do Rio de Janeiro para celebrar os santos gêmeos. Entre os dias 27 de setembro e 12 de outubro – período que se inicia com a festa dos santos e termina no Dia das Crianças-, adultos, adolescentes e crianças vão às ruas atrás dos saquinhos que são distribuídos nos portões de casa ou pelas ruas, à pé ou de carro, em praças, igrejas e centros espíritas e umbandistas. No presente trabalho, penso a festa de Cosme e Damião a partir das crianças – ou nas crianças a partir da festa de Cosme e Damião. O dar e receber no dia de Cosme e Damião parece alternar entre a demarcação e dissolução de diferenças – entre crianças e adultos, ricos e pobres, dar e receber, devoção e diversão. Acompanhando as festas em seus diversos momentos e formas, veremos como adultos estão todo o tempo a desenhar os limites da categoria crianças e como estas também buscam - na interação com adultos, doces e brinquedos - construir as fronteiras de sua própria categoria. Além das crianças que durante a festa correm pelas ruas, trago também as crianças que são rememoradas enquanto os saquinhos são montados e aquelas que são representadas nas imagens de Mariazinha e Pedrinho.

Palavras-chave: crianças, festas, Cosme e Damião, doces, Rio de Janeiro.


Fazendo festa, fazendo a cidade: a centralidade simbólica dos festejos na dinâmica de Conceição da Barra – ES
Raphael Ziviani Leite - PPGAS/UFSCAR


Resumo: Esta apresentação é um excerto de algumas reflexões que me deparei em minha pesquisa de campo, ainda em curso, referente ao circuito de festas turísticas (o Carnaval da sede e o Festival Nacional de Forró Pé de Serra do distrito da vila de Itaúnas) da cidade de Conceição da Barra, localizada no litoral norte do estado do Espírito Santo. Através dessas festas e tomando Conceição como campo da investigação etnográfica, pretendo discutir os efeitos de uma dinâmica mais complexa e contemporânea de circularidade, centralidade e produção de determinados tipos de festa que delineiam o ethos de cidade. As festas agregam valores simbólicos, políticos e econômicos à dinâmica cultural urbana e a sociabilidade aí engendrada passa a ser revelada na circulação de demandas sobre essas festas. Portanto, trata-se menos de evidenciar tais festas como loci da tradição do lugar, mas, sobretudo verificar a dinâmica de apropriações de festas que produzem e fazem dialogar pontos de vista distintos sobre a dinâmica urbana numa cidade vocacionada para o turismo, atentando para as dificuldades teórico-metodológicas referentes à apreensão das diferentes dimensões e articulações destes fenômenos.

Palavras-chave: Teoria antropológica da festa, megaeventos, ritual.