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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 2: Noções de pessoa, ontologias

Debatedores: Beatriz Matos (PPGAS/MN) e Rogério Lopes Azize (UFF)


Urucum e desodorantes, resguardos e sabonetes: pensando corpos com os Wajãpi (Amapá)
Camila Galan de Paula - PPGAS/USP




Resumo: Para os Wajãpi, a pintura do corpo com urucum, jenipapo e resinas perfumadas medeia relações com outras gentes, invisíveis aos sem pajé – aquilo que na ontologia naturalista são seres “sobrenaturais”. Camisetas, perfumes e desodorantes podem também atuar nessa mediação? A couvade, necessária porque um homem e seu bebê são corporalmente ligados, protege pai e filho de agressões de outras gentes. O uso de sabonetes disfarça o cheiro de recém-nascido de um pai? Acompanho as comparações em que os Wajãpi põem em paralelo urucum e camisetas como matéria de reflexão e ação. Percebe-se que as ponderações dos Wajãpi são múltiplas. Alguns aprofundam a comparação entre tecnologias de fabricação corporal mais recentes (xampus, desodorantes, camisetas) às usadas há mais tempo (urucum, resinas perfumadas, jenipapo) julgando todas eficazes. Nesse caso, mantêm-se certos pressupostos ontológicos: há outras gentes não visíveis aos sem pajé; pais e filhos bebês ligam-se corporalmente. Já outros Wajãpi parecem experimentar uma ideia biológica e universalizante de corpo. A comunicação seguirá as considerações dos índios e a partir delas tratará de questões relacionadas à corporalidade, noção de pessoa e ontologias.

Palavras-chave: Corporalidade; Vestimentas; Ornamentação corporal.


Modos de fermentar, sentidos de embriagar e concepções de ser: algumas considerações sobre pessoa, socialidade e caxiris entre os Tukano do Alto Rio Negro
Talita Sene - PPGAS/UFSC


Resumo: A produção e consumo de bebidas fermentadas indígenas pode ser encontrado tanto entre povos das terras altas, quanto das terras baixas da América do Sul. Entretanto, as possíveis concepções/teorias indígenas a respeito destas bebidas, bem como das matérias-primas que as compõem, ainda não receberam a devida atenção da antropologia americanista. Levando tal aspecto em consideração, esta arguição visa apresentar uma breve reflexão acerca dos estatutos dos caxiris (bebidas fermentadas derivadas da mandioca brava) para os Tukano do Alto Rio Negro (NE do Amazonas), evidenciando as conexões de tais estatutos com princípios e valores da sociocosmologia nativa. Para tal, observo particularmente as técnicas de produção dos caxiris, utilizadas pelas mulheres Tukano, realçando as transformações da mandioca brava em bebida. Mostro como estes povos relacionam tais técnicas e transformações ao ciclo vital e à noção de pessoa, e ressalto como as mesmas associações aparecem com frequência na mitologia dos diversos povos Tukano do Alto Rio Negro. Demonstro ainda, como estas reverberam nos modos de consumo dos caxiris. Esta pesquisa faz parte de minha pesquisa de mestrado, pautada em revisão bibliográfica e observação participante. 

Palavras-chave: pessoa, bebidas fermentadas indígenas, Alto Rio Negro.


O que é um psicomorfo: desacelerando o pensamento para recolocar a questão
Mauricio Machado Siqueira Filho - PPGAS/MN


Resumo: O texto pretende explorar a gênese, o desenvolvimento e as bifurcações de um conceito elaborado por Bruno Latour sob uma multiplicidade terminológica: psicotropos, psicomorfos, condutores de subjetividade, pavores e, mais recentemente, conforme uma outra criptografia analítica, tão somente [MET]. O objetivo é o empreendimento de uma análise de seus elementos e do plano que o conceito percorre. O ponto de saída é a descrição do modo pelo qual ele permite deslocar certa partilha fundamental no interior da ecologia científica dos modernos: aquela entre interioridade e exterioridade. Procurarei sugerir que a perspectiva latouriana deriva sua potência da recusa à realização de uma manobra frequentemente acionada para a manutenção dessa oposição; de sua crítica aos argumentos de cunho ontológico que procuram enfatizar a incomensurabilidade entre o domínio dos fenômenos e aquele dos fatos. Explorando essa posição, pretendo sublinhar, em Latour, alguns elementos que nos aproximem da resposta à pergunta: O que pode significar uma abordagem propriamente antropológica- isto é, etnograficamente orientada- do problema da produção de subjetividades? Ou, ainda: o que pode significar a noção de produção em referência a uma tal questão?

Palavras-chave: subjetivação, psicomorfismo, Bruno Latour.


A Gente dos Direitos dos Animais: Um Estudo com Ativistas do Estado do Rio de Janeiro
Rodolfo de Moraes Santos Cerqueira - PPGA/UFF 


Resumo: O presente trabalho almeja discutir o ativismo em direitos animais, se utilizando de sua teoria e dos discursos e práticas de ativistas do Estado do Rio de Janeiro, sob a perspectiva das Ciências Sociais. Em suma, a crescente relevância da temática dos Direitos Animais e dos questionamentos que levanta, me sugeriu a questão: Como a Antropologia pode pensar sobre essa temática e intervir nesse debate? Para procurar essa resposta precisei construir um recorte que pudesse se apropriar de debates teóricos do campo das Ciências Sociais e da Teoria dos Direitos dos Animais para construir questões de pesquisa. Em um segundo momento, me propus a buscar um diálogo com ativistas do Estado do Rio de Janeiro, para realizar o encontro do meu levantamento teórico e outras observações com as posições de ativistas dos direitos animais do Estado do Rio de Janeiro. As seguintes questões me guiaram; Seria o ativismo em Direitos Animais, mais especificamente, o do grupo de interlocutores do presente trabalho, uma extensão de princípios jurídicos ordenadores modernos a nova classe de seres? E em que termos os discursos são trabalhados nesse sentido? Foi aplicado @s ativistas um questionário de 4 perguntas relacionando direitos animais e ativismo. Na sequência, ao discurso e práticas de ativismo relatadas pel@s entrevistad@s, estabeleci uma correlação com reflexões sobre o movimento dos direitos animais no campo da antropologia.

Palavras-chave: Ativismo, Direitos dos Animais, Animalidade.


Conflitos ontológicos na arte contemporânea
Daniel Revillion Dinato - PPGAS/USP


Resumo: A possibilidade do “uso de materias abjetos” (DANTO, 2008, p. 21) na arte, iniciada por Marcel Duchamp, traz um problema claro: o de definir o que é arte. Uma possível resposta é a de crer na instituição-Museu que certifica que aqueles objetos são, de fato, arte. Porém, às vezes isto não basta, situação que pode ser ilustrada pela sacola, parte da obra de Gustav Metzger, jogada fora no Tate Britain. 
Desejo, portanto, com este trabalho, propor que a obra de arte contemporânea pode ser vista enquanto catalisadora de conflitos ontológicos (ALMEIDA, 2013). Se, tal como afirma Almeida,“pressupostos ontológicos dão sentido, ou permitem interpretar, encontros pragmáticos” (ALMEIDA, 2013, p. 9), podemos concluir que distintas interpretações podem ser vistas como surgidoras de ontologias que se conflitam, o que não impede, entretanto, a possibilidade de acordos pragmáticos ocorrerem (ALMEIDA, 1999). A proposta desse trabalho, portanto, é refletir sobre essa possibilidade e, igualmente, ver como ela pode dialogar com a noção de equívoco, proposta por Eduardo Viveiros de Castro (2004, 2014).

Palavras-chave: arte contemporânea; conflitos ontológicos; equívocos