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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 17: Engajamento, Ativismo e Movimentos Sociais

Debatedores: Tomás Gomes (UFF) e Marta Antunes (PPGAS/MN)


Facebook, maconha e a libertação das drogas na Colômbia
Andrés Góngora - PPGAS/MN


Resumo: Desde 2011 venho acompanhando o processo organizativo desenvolvido pelos membros dos autodenominados coletivos “cannábicos” e das organizações da sociedade civil de várias cidades da Colômbia que propõem a mudar as atuais politicas de drogas. Aos poucos fui me familiarizando com meus interlocutores e descobrindo que aquilo que eles chamam de “movimento social” é, entre outras coisas, o efeito das relações construídas na Internet e particularmente nas “redes sociais”. Em termos etnográficos, sabia que estes tipos de interações estava me falando do universo social que meus interlocutores constroem, dia a dia, nas suas práticas e que alguns chamam “cultura cannábica” e outros “a causa”. No entanto, não sabia como lidar com o rio de informações que começava a receber constantemente nos meus dispositivos eletrônicos: Era correto usar o termo “virtual” para descrever este fluxo? Era possível fazer algum tipo de descrição etnográfica a partir dos perfiles de Facebook dos coletivos cannábicos? É preciso separar analiticamente as interações mediadas por computador da “vida real”? Qual o potencial emancipatório e que tipo de práticas de regulação emergem quando se pretende construir relações politicamente orientadas através da Internet? Esta proposta espera responder essas questões e refletir sobre a construção contemporânea das causas políticas e o uso da comunicação mediada por computadores, partindo de alguns problemas etnográficos encontrados durante meu trabalho de campo.

Palavras-chave: Ativismo, drogas, Internet.


Sem-Terrinha em ação pra fazer revolução: da pedagogia da política à política da pedagogia 
Mariana Cruz de Almeida Lima - PPGAS/UnB


Resumo: Em fevereiro de 2014, um grupo 700 crianças ocupou o Ministério da Educação. A atividade constituiu-se como o primeiro ato público realizado pelo MST durante seu 6o Congresso Nacional. Xs Sem-Terrinha reinvindicavam, dentre outras coisas, o direito de estudar perto de casa, em suas comunidades. O artigo parte da observação participante deste evento exemplar (CHAVES, 2001) e do diálogo com outras experiências etnográficas envolvendo crianças em movimentos sociais de luta pela terra para refletir sobre a produção da pessoa Sem-Terra. A literatura aponta que a perspectiva de infância fundada na modernidade separa as crianças do mundo social, relegando a elas a posição de adultos a ser. Argumento que, no “campo do campo”, as crianças não estão apartadas nem no processo de produção da vida, centrada no trabalho da terra, nem no processo de luta pela terra. Assim, ao produzir ações diretas como a ocupação do MEC junto aos Sem-Terrinha, o MST materializa uma noção de infância que reconhece as crianças como sujeitas da História e, portanto, sujeitas políticas. Neste sentido, o artigo busca refletir sobre como a práxis política da luta por educação das/com as crianças produz e é produzida pela/com a práxis pedagógica que forja a pessoa Sem-Terra.

Palavras-chave: criança, política, aprendizado.


Tecendo deslocamentos: Trajetórias de mudança traçadas no tempo e no espaço por mulheres trabalhadoras rurais
Rodica Weitzman - PPGAS/MN


Resumo: Neste trabalho, propõe-se realizar uma análise dos processos de organização social por meio dos quais mulheres agricultoras se tornam sujeitos políticos. Assim, será costurada uma etnografia que retrata, de modo minucioso, o surgimento do Departamento de trabalhadoras rurais no cerne do STR em Simonésia, MG, e suas repercussões dentro e fora da estrutura sindical. Serão delineadas as seguintes dimensões a partir de uma perspectiva de gênero: as abordagens adotadas para se organizar coletivamente; as formas de incidir na gestão dos processos coletivos; as estratégias para lidar com a tomada de decisões: conflitos, convivência pacífica e consensos; o exercício da liderança (no sentido de “assumir cargos”) e o desenvolvimento das práticas discursivas. As mulheres agricultoras se reposicionam o tempo inteiro perante os outros (maridos, dirigentes sindicais) e exploram, com bastante destreza, as margens possíveis de negociação de suas formas de atuação. Pretendo explorar de que modo estas mulheres tecem uma pedagogia que seja coerente com as particularidades de suas bandeiras de luta, além de uma linguagem específica que oriente os rumos de suas negociações, disputas e enfrentamentos.

Palavras-chave: movimento sindical; gestão; práticas discursivas.


Urbanizando mentes: ações estatais e arenas públicas no “Centro Cívico” de Manguinhos
Mila Henriques Lo Bianco - IPPUR/UFRJ


Resumo: O chamado “Centro Cívico” de Manguinhos – que reúne no seu entorno uma série de equipamentos públicos construídos no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-Favelas) – evidencia uma estratégia estatal que busca articular a urbanização de espaços e territórios no contexto de reformulação das margens da cidade com o discurso de “entrega” da cidadania. Diante da inexorabilidade da consumação das obras, a população local e diversos outros atores interessados consolidam, cada vez mais, suas táticas de apropriação desses espaços, conferindo-lhes novos usos e significados. A partir de um trabalho de campo realizado entre 2011 e 2015, acompanhei diversas situações sociais nas quais agentes estatais e associações locais estabeleceram regimes de engajamento múltiplos em torno de diferentes assuntos. Nessas arenas públicas, em contexto das margens, as intervenções estatais são tomadas em sua dimensão cotidiana, tal como vividas e experimentadas pela população local em constante interação e negociação com aqueles que ocupam a “ponta” do Estado. 

Palavras-chave: Estado, margens, arenas.


A luta pela água em Itu (SP): etnografia de uma “crise hídrica”
Danilo Magalhães - PPGAS/MN


ResumoNo contexto da atual “crise hídrica”, a cidade de Itu ganhou projeção no ano de 2014 quando as imagens das barricadas, numa cidade há cerca de três meses sem água, chegaram ao noticiário nacional. Projetou-se que São Paulo, em contagem regressiva para ficar na mesma situação, estaria prestes a virar Itu. Entendendo que Itu, nesse contexto, aparece como uma dupla imagem – a de “caos urbano” e a de “revolta popular” - pretende-se partir desta para tratar das questões que uma situação de desabastecimento hídrico em contexto urbano pode gerar. Esse trabalho é resultante de quatro meses de campo vivido junto aos integrantes remanescentes do movimento “Itu vai parar” (e sua rede de contatos), movimento que se articulou no momento mais crítico do período de desabastecimento vivenciado pela cidade de 165 mil habitantes no interior do estado. O objetivo é apresentar, a partir das estruturas narrativas de um período de “crise” e da descrição etnográfica do momento de articulação política posterior, as relações entre uma “vida social da água escassa” e a “mobilização social”, tão caras ao movimento. As comparações e articulações entre Itu e Cochabamba (Bolívia) – exemplo paradigmático de luta contra a privatização da água – ganham atenção especial nesse trabalho. 

Palavras-chave: crise hídrica, escassez de água, mobilização social.