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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 14: Corpo, Saúde e Cuidado

Debatedores: Waleska Aureliano (UERJ) e Román Goldenzweig (PPGAS/MN)


“É uma outra relação com o corpo”: notas preliminares sobre a medicina cubana no Brasil através do Programa Mais Médicos
Uliana Esteves - PPGAS/MN


Resumo: O objetivo desta comunicação é discutir, em caráter preliminar, a consulta realizada por médicos cubanos no âmbito do “Programa Mais Médicos para o Brasil” a partir do relato de pessoas atendidas por esses profissionais em três estados brasileiros. Analisam-se três aspectos da prática médica cubana no que tange à relação médico-paciente: 1) os sentidos da duração do tempo da consulta; 2) os sentidos do toque do médico no corpo do paciente; 3) as negociações linguísticas entre brasileiros e cubanos na consulta médica. Dito isso, propõe-se apreender as experiências dos sujeitos face às políticas públicas de saúde – práticas estatais e formas institucionais de gestão da vida. No caso em questão, trata-se de uma articulação entre a referida política brasileira e o internacionalismo médico cubano, política que consiste no envio de médicos para países que solicitem sua presença a curto ou longo prazo, através de acordo de cooperação entre governos.

Palavras-chave: Internacionalismo médico cubano; cooperação internacional; relação médico-paciente.


A “construção do saudável” e os cuidados com o corpo entre mulheres lésbicas e bissexuais do grupo Tambores de Safo
Margareth Gomes - IMS/UERJ


Resumo: Esse trabalho derivou de pesquisa etnográfica de quatro meses envolvendo participantes do Tambores de Safo, um grupo de mulheres lésbicas e bissexuais, negras e feministas do movimento social da cidade de Fortaleza. A pesquisa dialoga com as ideias de matriz cartográfica do corpo, de Gail Mason, e modos somáticos de atenção, de Thomas Csordas. Por meio de interação e realização de oito entrevistas informais, foram obtidos dados sobre alguns cuidados desenvolvidos em prol da saúde que eram produto e produtores de corporalidades diversas. Analisados à luz de referencial qualitativo, os relatos sobre a preocupação com sexo seguro e a relação entre estas mulheres e profissionais de saúde sugeriram, por um lado, uma conexão lógica entre expressões de gênero masculinas e invulnerabilidade e, por outro, certa banalização das infecções sexualmente transmissíveis (IST). Observou-se, ainda, algumas relações entre experiências de sofrimento e adoecimento narradas pelas mulheres do grupo, o que indicou a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero como possível causa apontada das angústias que “afetavam” seus corpos e sua saúde.

Palavras-chave: gênero, corporalidades, saúde.


Uma Chave na Ponta do Nariz: A Arte e Performance Clown nos Hospitais
Camila Maurício Zedron - PPGAS/UFSC


Resumo: Há algum tempo, a prática da performance clown, ou o palhaço, tem se tornado cada vez mais freqüente em instituições de saúde, principalmente nos hospitais. Atuando tradicionalmente através de ONGs e iniciativas privadas, os grupos de palhaçaria, a partir da PNH (Política Nacional de Humanização) também passaram a ser incluídos na agenda das políticas públicas. Esse é o caso dos Terapeutas da Alegria, grupo que tenho estudado durante minha pesquisa de mestrado, que busca entender principalmente o movimento da arte e da performance clown enquanto política pública de saúde para a humanização dos hospitais. Assim, a idéia de eficácia simbólica relacionada a uma prática que pode ser tomada como uma ação de Estado é o foco deste estudo, que também busca enxergar como processos de afecção se manifestam em ambientes tidos tradicionalmente como obrigatoriamente distanciados do afeto.

Palavras-chave: Antropologia da Saúde, Antropologia da Performance, Eficácia Simbólica


O parto de mulher: projeto e agência na escolha pelo parto “natural”
Camila Manni - PPCIS/UERJ


Resumo: A comunicação proposta inicia com um levantamento das mudanças na assistência ao parto ao longo de quatro períodos históricos, relacionando cada um deles com a percepção de corpo, saúde e gênero correntes em cada um. Esse percurso leva ao momento atual, em que a crença na falha biológica e na incapacidade do corpo feminino contribui para que o controle do corpo pelo poder seja reforçado. Nesse contexto, multiplicam-se os discursos que justificam o papel da medicina de salvar a mulher e seu filho do "risco" de parir e nascer. Passa-se a observar então os movimentos de resistência a esse controle sobre o corpo, no âmbito da defesa do "parto humanizado" e do "parto natural". Esses movimentos buscam não apenas uma retomada do corpo, mas também exaltam e retornam à "natureza" feminina, que costuma ser tratada na terceira pessoa - assim como "o corpo", - e é compreendida como uma entidade sábia. 
Entre desejar uma via e um modelo de parto e consegui-lo efetivamente há um percurso que é onde está o cerne da discussão. Esse foco não se dá sobre o percurso em si, mas sobre as estratégias e narrativas das mulheres, que costumam narrar suas histórias como um símbolo de resistência.

Palavras-chave: parto; corpo; poder


Experiências familiares de politização do autismo: cuidado, gênero e relações de dependência
Fernanda Nunes - PPGSA/UFRJ


Resumo: Parte da pesquisa de mestrado, defendida em março de 2014, este trabalho discute as interseções entre processos de politização de uma deficiência -- no caso, o autismo – e as noções de cuidado, gênero e dependência. A metodologia envolveu trabalho etnográfico realizado, ao longo de um ano, em três associações de pais e familiares de autistas no Estado do Rio de Janeiro, bem como entrevistas em profundidade com informantes qualificados e observação participante em eventos públicos e privados promovidos pelos grupos. 
Para além das principais demandas e alegações relacionadas ao campo da saúde, este trabalho focaliza a construção da figura da mãe como autoridade centrada na lógica de uma economia moral: é “forte”, “incansável” e “lutadora”. De acordo com o ponto de vista êmico, as “mães-ativistas” são concebidas, a um só tempo, como aquelas que cumprem a “função” de principal cuidadora do filho autista (criança ou adulto) e que vão “à luta” em nome de uma causa coletiva, tornando-se, inclusive, reconhecidas pública e nacionalmente.

Palavras-chave: autismo; cuidado; gênero