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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 13: Etnografias da Violência

Debatedores: Dibe Ayoub (PPGAS/MN) e Juliana Farias (PPCIS/UERJ)


Vivendo no Campo Minado: Riscos, Apostas e Sobrevivências em uma favela do Rio de Janeiro
Tássia Mendonça - PPGAS/MN


Resumo: Nesta comunicação, a partir de análises presentes em minha dissertação de mestrado, descrevo as estratégias de sobrevivência, os riscos e as apostas presentes nas histórias de Cássia, mulher negra moradora do Batan há mais de 40 anos. Essa reflexão traz à tona o que suas memórias (re)contadas revelam sobre o lugar onde mora, sua história, seu território e os distintos poderes que o atravessam. Dos bailes da década de 80, das travessias da Avenida Brasil, dos casos de X-9, dos episódios de violência doméstica e sexual, dos filhos executados pela polícia e pelo tráfico, dos filhos expulsos pela milícia, dos gritos, dos silêncios, dos alívios e das dores. Trata-se, por conseguinte de uma análise dos saberes implicados em cada um desses movimentos: de aproximação, afastamento, negociação e enfrentamento aos poderes armados que atravessam espaço-temporalmente a favela do Batan - tráfico, milícia e polícia. É menos uma etnografia dos fatos violentos por ela vividos e narrados, e mais uma reflexão sobre o que essas histórias criam; que movimentos essas narrativas estabelecem; que possibilidades de resistência e existência elas traçam; que saberes essas memórias (re)atulizam. A proposta é falar sobre o saber viver a que Cássia se refere diretamente, mas também ao conhecimento implícito em suas histórias, inscrito em seu corpo: o saber viver que é necessário para a sobrevivência, num sobreviver que se articula necessariamente com a capacidade de transitar entre diferentes formas de poder armado e político. 

Palavras-chave: favelas, violência, etnografia.


“É o crime!” Revolta, adrenalina, ostentação, poder e deleite
Sophia Prado - PPGAS/UFRN


Resumo: O trabalho proposto é resultado de uma pesquisa etnográfica realizada em uma unidade de internação para adolescentes em conflito com a lei e compreende parte da minha dissertação. Percebendo o crime como um estilo de vida e considerado o seu caráter vivencial (RIFIOTIS, 1997), pretendo refletir sobre a possibilidade deste ter se transformado em um meio de inversão da típica relação de poder presente em contextos de extrema desigualdade social. Diante de uma vida de exclusão, como é a realidade de quase todos os adolescentes que estão cumprindo medida socioeducativa no Brasil hoje, o crime surgiria como uma forma de atingir um ideal de consumo, mas não só como uma possibilidade de acessar bens materiais, mas como um ato por reconhecimento. Porém, a revolta por terem que recorrer a esses métodos, parece levar a um ambíguo sentimento de deleite pela transgressão, pelo rompimento da ordem que os oprime e pelo momento em que se sentem no poder. Assim, esse estilo de vida passa a ser valorizado como uma estratégia legítima de sobrevivência e a figura do bandido performatizada a partir de um verdadeiro ritual de interação (GOFFMAN, 2011), mas que não deixa de ser, também, uma estratégia para lidar com essa situação de sujeição criminal (MISSE, 1999).

Palavras-chave: Adolescentes em conflito com a lei; Poder; Deleite.


Terror de Estado: Tortura e Militarização de Indígenas na Ditadura
Marcos Rodrigues Barreto - PPGMS/UNIRIO


Resumo: Este trabalho abordará o processo de construção discursiva de dominação da ditadura militar instaurada no Brasil em 1964, e suas ações repressivas, através das quais foram criadas casas de tortura, reformatórios e centros de formação militar para grupos indígenas. Serão destacadas aqui, as dinâmicas de resistência desenvolvidas atualmente para sobrevivência das memórias da militância e resistência política em face aos mecanismos de opressão de Estado. Destacamos a importância da percepção do conceito de justiça de transição, e das possibilidades de reparação simbólica, a partir de movimentos sociais que concebem uma cadeia de disputas, no que compete ao direito à memória - que podem ser sociais, políticas ou culturais - assim como da abertura dos arquivos, emergem novos testemunhos, sujeitos e histórias. Estes espaços, em que documentos e edificações de novos museus de consciência, locais onde antes funcionaram centros de tortura e formação militar para grupos indígenas, serão pensados como lugares de memória. 

Palavras-chave: Memória, Indígenas, Justiça de Transição.


A produção de legitimidades para o uso de ações armadas como estratégia de ação política: memórias de uma tentativa de formação de um foco de guerrilha rural em Cachoeiras de Macacu/RJ
Fabrício Teló - CPDA/UFRRJ


Resumo: O objetivo deste trabalho é refletir sobre os processos por meio dos quais determinadas ações políticas deixam de ser enquadradas como imorais, ilegítimas e inaceitáveis e passam a ser concebidas como necessárias e, portanto, legítimas e aceitáveis. Refiro-me aqui especificamente à ação armada como repertório de ação de organizações políticas. Tendo como base para reflexão as memórias de militantes que participaram de uma tentativa de formação de um foco de guerrilha rural no município de Cachoeiras de Macacu/RJ, durante a ditadura militar, procuro compreender os elementos que promoveram o engajamento de camponeses e de lideranças religiosas em um grupo da esquerda armada, nomeadamente a Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR-Palmares), o que proporcionou que se criassem relações de confiança entre as lideranças do grupo e os novos integrantes, que redes de sociabilidade foram acionadas para facilitar tais aproximações e, por fim, os elementos que impediram que se concretizasse esse engajamento nas pessoas que não aderiram à ideia da ação armada. Para iluminar essa reflexão, resgatarei as contribuições de Weber, Arendt, Fanon e Sartre, além da literatura brasileira sobre luta armada.

Palavras-chave: ações armadas; engajamentos políticos; legitimidades


Por uma reelaboração dos conceitos: “taharush, taharush el ginsi, muaksa e hatird” no direcionamento da luta contra o assédio sexual no Cairo, através de diferentes atores agenciadores: Movimentos Civis, Estado e Instituições Internacionais
Renata Moreira Fontoura (PPGA/UFF)


Resumo: O objetivo deste ensaio é fazer uma análise sobre as múltiplas formas de construção e definição do assédio sexual no Cairo, Egito através de diferentes agências: Estado, movimento civil e organismos internacionais. Este trabalho é parte de minha pesquisa de mestrado, por meio de um trabalho de campo etnográfico realizado na ONG Harassmap, durante sete meses. Em um período de redefinição da arena político-social pós-revolucionário (“Pós-Primavera Árabe”). Momento marcado por mudanças governamentais, como a definição do assédio sexual nas leis e a criação do Manual Estratégico de luta contra a violência sexual no país. Em contrapartida, a intensificação de leis anti-protestos e a dificuldade de legalização da sociedade civil. Diretrizes liberais e conservadoras que afetam diretamente os organismos sociais e as suas atividades. 
Neste sentido, este texto, busca contribuir com reflexões sobre os “projetos cooperativo-tensionais” entre os movimentos sociais egípcios e o Estado. O argumento que sustento, refere-se a uma recriação de linguagens e da luta contra a violência de gênero no país, através das ONGs, e que misturam-se à diretrizes internacionais, produzindo uma “panacéia” de projetos governamentais, embasados em diferentes discursos.

Palavras-chave: Movimentos Sociais, Tratados Internacionais, Primavera Árabe