Debatedores: Mariana Renou (PPGAS/MN) e Leif Grünewald (PPGA/UFF)
Morte, vida e memória nas Nine Nights afro-caribenhas
Claudia Bongianino - PPGAS/MN
Resumo: O trabalho pretende analisar a performance dinâmica e criativa dos eventos fúnebres realizados na vila afro-caribenha de Old Bank (costa atlântica do Panamá), localmente denominados de set ap, fiuneral e nain nait. Tais eventos apresentam semelhanças (parciais e gerais) uns com os outros e também com os eventos fúnebres que recebem nomes análogos (set up e nine night) em diferentes contextos afro-caribenhos – Jamaica, Carriacou, costa atlântica do Belize, entre outros. Todos esses eventos fúnebres são acompanhados por canto, oração e consumo de comida e de bebida alcoólica, além de serem todos marcados por aparentes ambiguidades - entre ritual e festa, e também entre ordens religiosas nativas e estrangeiras. Lançando mão dos estudos realizados sobre esses eventos fúnebres no Caribe, atento para a natureza das relações (entre não/humanos, entre espacialidades e entre temporalidades) que tais eventos trazem à tona em Old Bank. Em particular, investigo a maneira como tais eventos fúnebres des/fazem memórias relativas à conexão histórica entre a vila, o Caribe e o mundo, assim como entre pessoas vivas e mortas, entre poderes sobrenaturais (espíritos, Deus, Diabo) e também entre objetos e lugares (Bíblia, álcool, igrejas cristãs locais etc.).
Palavras-chave: Caribe. Funerais. Memória.
História e suas múltiplas possibilidades: O Barão e a estação
Letícia Marques Camargo - PPGA/UFF
Resumo: A partir de um trabalho etnográfico no distrito de Barão de Juparanã, em Valença/RJ, acompanhei a maneira como o(s) conceito(s) de história atua na prática. A pauta que unia os moradores em um movimento político era a reforma de uma estação de trem desativada. Foi por intermédio desse movimento que pude ver como as histórias são evocadas cotidianamente para expressar o que essas pessoas são e como se seus problemas poderiam ser resolvidos. A proposta desse trabalho é de fazer uma análise de como tais histórias tomam forma e a maneira como elas atuam nas práticas sociais e políticas na localidade de Barão de Juparanã, em Valença/RJ. A partir de um “etnografia da história”, meu objetivo é compreender os múltiplos contextos, e multiplas versões da(s) a(s) história(s), seja ela utilizada para uma reivindicação política ou pela via do parentesco para afirmar laços, ou ainda demonstrar as relações possíveis entre senhores e escravos. O passado contado a partir da memória e dos arquivos vai montando pouco a pouco um mosáico, se assemelhando a um retrato que reúne gerações diferentes (entre vivos e mortos), mas que atuam de forma prática no presente.
Palavras-chave: política, história, parentesco
Un país sin indios: los procesos de reconstrucción étnica entre los descendientes de charrúas en Tacuarembó- Uruguay
Ana Francesca Repetto Iribarne - PPGAS/MN
Resumo: Uruguay se ha sido reconocido nacionalmente como un país de origen europeo; en sus acepciones más llamativas es reconocido como la “Suiza del Sur”, “país trasplantado” o simplemente como un “país sin indios”. Entiendo que los gobiernos partes de la primera mitad de siglo del Estado independiente (a partir de 1831), buscaron conformar un mito identitario: una narrativa nacional que diera sustento y forma al Estado como institución, en base a la homogeneidad cultural a imagen europea. Para ello se hacía necesaria la eliminación de pueblos indígenas, sobre el supuesto de que los mismos eran una barrera a la conformación de la incipiente nación uruguaya. Sin embargo desde 1988 han surgido más de veinte colectivos indígenas y de descendientes (éstos prevalecen) de los grupos charrúas, guenoas-minuanos y bohanes. A partir de las narrativas recolectadas en trabajo de campo en la Ciudad de Tacuarembó en 2014, en el marco de la monografía final de curso, éste trabajo busca discutir y reflexionar acerca de las formas y mecanismos de (re) construcción étnica entre los descendientes de charrúas, focalizando en aquellos fenómenos que atraviesan las narrativas de unos y otros, como la negación, ocultamiento, descubrimiento, afirmación.
Palavras-chave: descendientes de charrúas- etnicidad- mito nacional.
Memória de grupos minoritários em espaços museais
Mariane Aparecida do Nascimento Vieira - PPGMS/UNIRIO
Resumo: As sociedades ditas tradicionais, no final do século XX, se tornaram protagonistas das narrativas produzidas de seus costumes, crenças, etc. nos museus tradicionais, através da curadoria compartilhada. Assim como criaram seus próprios espaços 'musealizados', seja na concepção de seus próprios museus, como o Museu Kuahí dos povos do Oiapoque, seja na utilização do ciberespaço para troca de experiências. A rede indígena na web pode ser analisada através do conceito de Museu Virtual. Os sites foram considerados como formas pós-modernas do potlach pré-moderno, por Michel Maffesoli e pode nos remeter a outras temporalidades da memória. As memórias das sociedades indígenas são, portanto, narradas extrapolando o espaço físico da aldeia. A troca de experiências proporcionadas por essas tecnologias - tanto o museu, quanto a web - é uma forma de empoderamento cultural, mas, principalmente político. Indo de encontro ao mito do progresso propagado pelo sistema capitalista, as sociedades tradicionais produzem nesse contexto (mais) favorável (que nos séculos anteriores) espaços de criação de novas formas de sustentabilidade.
Palavras-chave: Sociedades Tradicionais; Museus; Ciberespaço.
As memórias subterrâneas e o apaziguamento e memória da dor na comunidade remanescente de quilombo Tapera (Petrópolis-RJ)
Paola Dias - PPGMS/UNIRIO
Resumo: Neste ensaio discutem-se alguns dos pressupostos que amparam o debate sobre a subalternidade (e a formação de memórias subterrâneas) no contexto da contemporânea busca por uma memória quilombola. Pontuam-se reflexões teóricas com a experiência de campo, a fim de melhor compreender limitações e possibilidades de um estudo que relaciona a temática política das lutas pela afirmação da identidade negra à temática acadêmica da elaboração de uma memória quilombola e que encontra no esquecimento, no emudecimento e no apaziguamento da dor seu maior desafio. As discussões aqui contidas questionam, em linhas gerais: a agência dos sujeitos subalternos; a autonomia do pensamento subalterno; a construção de um projeto de resistência/superação da subalternidade; a instrumentalização da identidade-memória-esquecimento. O estudo de caso é realizado no Quilombo da Tapera (Petrópolis, RJ), que hoje enfrenta três desafios: a) reconhecimento pela sociedade petropolitana que historicamente negou a existência e a atuação do negro na construção da cidade e em sua formação social; b) encontrar os eixos de sua cultura e memórias da escravidão; c) encontrar sujeitos disponíveis para rememorar.
Palavras-chave: subalternidade; memória quilombola; memórias subterrâneas; esquecimento; apaziguamento; silenciamento.