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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 10: Gênero, Sexualidade e Interseccionalidade

Debatedores: Martinho Tota (PPGAS/MN) e Bruno Zilli (UERJ)


Gênero, espaço e sexualidade: tensionando mercado imobiliário e a produção de centralidades no centro de São Paulo
Bruno Puccinelli - PPGCS/Unicamp


Resumo: A presente comunicação é baseada em pesquisa de cunho etnográfico em andamento realizada na região central de São Paulo, dividida em duas regiões: 1) Frei Caneca e 2) Arouche. Tais regiões conformam espaços contíguos, mas produzidos de forma diferenciada, ocupados por sujeitos identificados e que se identificam como homossexuais a partir de diferentes formas classificatórias. Tais formas, resumidas a priori nos termos “gay” e “bicha”, ajudam a compreender as diferenças produzidas entre as duas regiões. Em termos gerais, a região 1 é tida como “gay”, enquanto a 2 é alocada como “bicha” quando os interlocutores estão na primeira região. Apenas essa menção apresenta um espectro amplo de marcadores sociais da diferença que operam desigualdades em termos de espaço: uma região é mais rica, branca e masculina, enquanto a outra é operada em termos de pobreza, negritude, afeminada e, inclusive doente. Nesta apresentação irei partir de uma análise interseccional de tais marcadores, incluindo espaço, para pensar no avanço do mercado imobiliário residencial na região 2, menos valorizada, mas em ampla expansão. O campo realizado em stands de venda ajuda a pensar na produção de sexualidades alocadas espacialmente de forma a valorar sujeitos e centralidades.

Palavras-chave: Sexualidade; Espaço; Centralidade.


A produção de corpos, identidades e mercados: cultura de consumo das travestis em Aracaju
João Dantas dos Anjos Neto - PPGCS/PUC-SP


Resumo: Esta proposta de comunicação pretende analisar as relações entre cultura de consumo e estigma no universo das travestis que trabalham como profissionais do sexo no bairro do Atalaia em Aracaju, Sergipe. O pressuposto é de que,embora o universo de consumo das travestis seja incluído, do ponto de vista mercadológico, no chamado consumo gay, ele apresenta uma singularidade: as travestis ressignificam a identidade dos produtos e das marcas que consomem, incorporando-os de forma particular em seus hábitos, ritos e valores, por meio de costumizações das roupas, do uso de produtos farmacêuticos utilizados nas transformações de seus corpos, entre outros meios de afirmação de uma identidade sempre precária e aviltada.

Palavras-chave: travestis; consumo; identidade


Homossexualidade e HIV/Aids na comunidade de Heliópolis: Uma etnografia com rapazes que mantém relações homoafetivas
Carolina Cordeiro Mazzariello - PPGAS/USP


Resumo: A partir de meados dos anos 2000 o número de casos de HIV/Aids entre jovens que mantém relações homoafetivas aumentou consideravelmente. Diante deste cenário, esse projeto pretende investigar os valores e experiências socioculturais que norteiam as práticas afetivas, de jovens que mantém relações homoafetivas, e associadas ao exercício da sexualidade, bem como à prevenção ao vírus HIV/Aids. Essa etnografia multisituada, em fase inicial, será realizada com jovens moradores da comunidade de Heliópolis, localidade que já foi considerada a maior favela de São Paulo. Tendo em vista que a epidemia de HIV teve seu momento crítico há aproximadamente 35 anos, pretende-se problematizar o significado atribuído por estes jovens à Aids, bem como identificar como tais percepções interferem em suas práticas afetivas e sexuais ou em relação aos cuidados com a saúde. Além disso, compreendendo que a associação entre sexo e risco é recorrente entre jovens e que noção de “confiança” surge como uma categoria que pode organizar a compreensão em relação aos significados das relações afetivo-sexuais, busca-se investigar a relação entre o acesso à informação sobre meios de prevenção e os modos como esses jovens se utilizam dessas informações. 

Palavras chave: relações homoafetivas; HIV/Aids; jovens


Os estigmas da subversão feminina: a questão da imagem na sexualidade adolescente nas redes sociais
Isabela Rangel Petrosillo - PPGA/UFF


Resumo: Diversos casos de exposição de imagens íntimas na internet tendem a ser encapsulados no conceito genérico da pornografia de vingança; porém, esse termo oculta importantes disputas classificatórias que possuem a pretensão de regulamentar a exposição da sexualidade feminina a partir de certos rótulos estigmatizantes. Para pensar essas questões, realizo um trabalho de campo em um CIEP, localizado em um bairro periférico, em São Gonçalo (RJ). Nele, quatro fotos e um vídeo de uma estudante, de 14 anos, em um ato sexual com um vegetal, e outro vídeo da mesma jovem tomando banho, ultrapassaram os muros de seu quarto e circularam entre seus colegas pelas redes sociais. O objetivo deste artigo é apresentar os resultados parciais de uma pesquisa sobre as questões que a exposição do corpo nu feminino, para além da prostituição, pode incitar. Nele procurarei mostrar os efeitos do forte cruzamento entre redes online e offline em ambientes com densa integração social, como é o caso da escola, a partir da análise da circulação de imagens sexuais de jovens por meio das redes WhatsApp e Facebook

Palavras-chave: Sexualidade feminina adolescente; Imagem corporal; Sociabilidade escolar.


Laços de família: incesto e homossexualidade no cinema brasileiro na década de 2000
Michel Carvalho - PPGCS/UFRRJ


Resumo: O presente trabalho tem como objetivo tratar das representações e repercussões de personagens homossexuais protagonistas no cinema brasileiro durante a década de 2000. Para o escopo da comunicação, analiso dois filmes realizados no período: A Festa da Menina Morta (2008), dirigido por Matheus Nachtergaele e Do Começo ao Fim (2009), de Aluizio Abranches. Ambas as obras possuem como elemento central de suas narrativas práticas homoafetivas entre parentes consangüíneos. Sustento que em tais películas, o tabu do incesto, prática considerada abjeta, social e moralmente condenável, é tratado num esforço contínuo em torná-lo palatável ao espectador - seja na extrema beleza dos atores, na estética fílmica clean e asséptica, na inexistência de conflitos entre o casal e demais membros da família; seja nas interfaces entre sexualidade/religiosidade, santidade/expurgação os recursos estilísticos contemplativos e experimentais. Por meio de dados coletados em entrevistas, análise fílmica e críticas cinematográficas veiculadas no jornal “O Globo”, sobreponho beleza e abjeção, o grotesco e o sublime, para versar acerca das imbricações entre antropologia e cinema, homossexualidade e incesto, natureza e cultura. 

Palavras-chave: Cinema, Homossexualidade, Incesto