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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 1: Arte, Objetos e Patrimônio

Debatedores: Thiago Oliveira (PPGAS/MN) e Alberto Goyena (PPGSA) 


Da madeira ao som: produção, circulação e trocas de instrumentos musicais no fandango caiçara
Patrícia Martins – PPGAS/UFSC


Resumo: Em caminhos seguidos por mar ou por terra, em barcos, canoas e carros, de ônibus, motos e a pé, vários são os trajetos que marcam os trânsitos caiçaras articulados pelo fandango, neste paper busco trazer questionamentos que surgiram em campo, dados etnográficos que revelam as relações e significados cosmológicos, estéticos e políticos presentes no que podemos chamar de “produção material” caiçara, através da construção de instrumentos musicais inseridos na prática musical do fandango. Em que pese sua interface com políticas patrimoniais, haja visto, que o fandango foi registrado como patrimônio imaterial no ano de 2012, bem como, a circulação por mercados em dimensões locais e ampliadas representa interessante ponto de inflexão e reflexão. O próprio espaço de vida e de referências estéticas caiçaras experimenta as sobreposições de usos e as ambiguidades de sentido derivadas de tal multiplicação de contextos em que seus objetos passam a circular. Observamos na prática destes construtores tanto o compromisso com a produção de artefatos/instrumentos tomados como ‘tradicionais’, quanto o interesse em produzir objetos novos, de formas também novas, relacionados a projetos e modos de vida contemporâneos, que implicam novas referências estéticas, materiais, estilos, usos e modos de produção.

Palavras-chave: materialidades; patrimônio cultural; prática musical.


A surdez musical dos antigos cronistas e da antropologia: aspectos sonoros dos Tupinambá no Brasil colonial
Rafael Severiano - PPGARTES/UFPA

Resumo: Neste ensaio, damos início a uma discussão na qual pretendemos superar um paradigma, a saber, a surdez musical dos antigos cronistas ao relatarem os Tupinambá no Brasil colonial, surdez esta que continua sendo reproduzida por alguns setores da Antropologia. Tratamos também da “surdez da antropologia”, que privilegia as epistemologias visuais e espaciais em detrimento de outras baseadas na primazia do ouvir e produzir sons vocais e instrumentais (HILL, 2014), cenário eu vem sendo superado. A metodologia foi composta de análises dos relatos históricos sob o viés etnomusicológico ameríndio. As conclusões parciais permitem supor que além dos contextos musicais observados pelos cronistas, havia ainda outros, que por conta dessa surdez, não foram considerados como tal.

Palavras-chave: Etnomusicologia ameríndia, Tupinambá colonial, Surdez musical.


A quinquilharia da radiofonia: bricolagem do som e tecnologias da escuta no primeiro século XX
André Timponi - EHESS


Resumo: Nos anos 1920 e 1930, a figura do ouvinte de rádio se identificava à figura de um operador, que construía, regulava, modificava seu próprio aparelho receptor, numa relação íntima com o universo da radioeletricidade. Entre chiados e zumbidos, rumores e assobios, estalos, “frituras”, rangidos estridentes, estrondos violentos, sonoridades inauditas, os sans-filistes, como eram chamados, na França, os adeptos da então téléphonie sans fil (T.S.F.), manipulavam objetos técnicos que viriam a se tornar, ao longo do século XX, utensílios determinantes na cultura do som mecânico. A análise tecnológica dessas práticas de bricolagem, inseparáveis das modalidades de escuta que as acompanhavam, constitui uma via de acesso privilegiada ao estudo das formas de coexistência do homem e das máquinas. A partir do exame de um corpus heterogêneo, proveniente exclusivamente do período estudado (imagens, sons, textos de estatutos diversos), e na perspectiva metodológica de uma antropologia histórica do som e da escuta no século XX, esta comunicação propõe um estudo da técnica radiofônica em seu estado embrionário, focando no imaginário elaborado em torno dos objetos, na circulação dos saberes entre os primeiros usuários, nas formas de aprendizagem, na articulação entre o material e o sensorial.

Palavras-chaveobjeto técnico; som; antropologia histórica


As transformações em curso na música brasileira contemporânea: ritmos, estilos e linguagens em trânsito
Pérola Mathias - PPGSA/UFRJ


Resumo: Neste projeto de pesquisa busco ampliar as discussões sobre a música popular no Brasil e analisar as transformações pelas quais ela vem passando nos últimos 25 anos. Proponho-me a analisar a atuação do multiartista Arto Lindsay –combinando sua obra e trajetória – enquanto um importante mediador cultural e de tendências artísticas entre o universo da canção, da arte de vanguarda e das artes visuais. Considero que sua figura é suficientemente complexa para abordar questões prementes do campo musical atual. Através das relações interpessoais e/ou dos contatos culturais que vem estabelecendo, Lindsay foi um agente capaz de complexificar as questões, barreiras e dualismos que cercam a música e as artes em suas designações como populares, modernas ou contemporâneas, autênticas, locais ou universais. Depois de atuar como músico nos Estados Unidos nos anos 1970, participando do “No Wave”, e no Brasil na década de 1980 com a banda Ambitious Lovers, ele deslancha um trabalho único como produtor – carreira esta que acabou consolidando com destaque pelas trocas que agregava com os artistas com quem compartilhava o processo de criação e composição musical.

Palavras-chave: música popular, produção musical, arte sonora


Cromatismo resguardado: Donos representados por meio das pinturas de Juan Carlos Taminchi e Ruysen Flores 
Luísa Helena Figueiredo Peixoto - PPGAS/UFSC


Resumo: No ano de 2008 tanto o kené, desenho pintado e tecido pelas mulheres shipibo-konibo, quanto o uso da ayahuasca passaram a ser considerados como Patrimônio Imaterial do Peru. O intuito deste artigo não é debater acerca das estratégias da patrimonialização, tampouco sobre cultura e xamanismo shipibo. Busca-se refletir sobre as redes ayahusqueiras no contexto ucayalino, precisamente no distrito de Yarinacocha na Amazônia peruana. A base da comunicação são relatos etnográficos de dois pintores mestiços recolhidos recentemente na região por mim, a saber, Juan Carlos Taminchi e Ruysen Flores. Neste sentido, propõe-se compreender o que cada um dos pintores citados acima comunica por meio de suas imagens figurativas. As imagens que narram alguns espíritos/donos das plantas e o encontro de seres humanos e não humanos que negociam com tais entidades nos momentos em que se encontram com ela, ilustrando, assim, como a rede da ayahuasca pode fazer ao pôr determinados agentes em relação. Por fim, pretende-se colocar a particularidade do que são os “donos” das plantas neste contexto, discussão que se situa com maior ênfase no mapa recente da etnologia amazônica.

Palavras-chave: redes ayahuasqueiras, donos, Amazônia peruana